ENM regressa ao transporte de passageiros para o Continente
O Volcan de Tijarafe está de regresso à Madeia este verão 📷 Paulo Camacho 📷 |
A Empresa de Navegação Madeira (ENM) vai acrescentar um novo rumo na prestação de serviços. Além da carga que transporta semanalmente entre a Madeira e o Continente passa a levar passageiros no novo serviço de ferry que a empresa vai contratualizar com o Governo Regional da Madeira. Depois de alguns nomes apontados como sendo o navio que vai fazer a viagem, o navio escolhido será o Volcan de Tijarafe, um ferry da Naviera Armas que já navegou por por cá e que fez esta mesma linha para o operador espanhol.
por Paulo Camacho
Para já, e previsivelmente nos próximos 3 anos, a operação será unicamente nos meses de verão, tal como consta no concurso público a que a ENM foi a única empresa a concretizar uma proposta.
No global, este ano, serão 24 viagens, 12 Funchal-Portimão e 12 Portimão-Funchal.
Estão previstas 5 viagens de ida-e-volta em julho (dias 2, 9, 16, 23 e 30), 4 viagens de ida-e-volta em agosto (dias 6, 13, 20 e 27) e 3 viagens de ida-e-volta em setembro (3, 10 e 17). A operação volta a repetir-se em 2019 e em 2020. A empresa madeirense irá receber uma indemnização compensatória do Orçamento Regional no valor total de 9 milhões de euros, valor que, segundo uma portaria publicada no Jornal Oficial da Região Autónoma em 2017 autoriza para o efeito as despesas de 2,25 milhões de euros em 2018, 3 milhões de euros em 2019 e 2020 e 750 mil euros em 2021.
As viagens deste ano
As viagens para Portimão serão às segundas-feiras 📷 Paulo Camacho 📷 |
As viagens serão feitas às segundas-feiras, com saída do Funchal às 10h30 e chegada a Portimão no dia seguinte às 9h30. A saída para a Madeira acontecerá nesse mesmo dia, terças-feiras, às 12h30, com chegada à capital madeirense à mesma hora do dia seguinte.
As viagens de Canárias, concretamente da ilha de Tenerife, acontecem aos domingos, com saída pelas 20h15, e com chegada à Madeira às 8h15 de segunda-feira, para dar tempo ao Lobo Marinho sair para a viagem regular para o Porto Santo e deixar o espaço único para operações ferry no Porto do Funchal.
O navio regressa a Canárias, agora para Las Palmas, na ilha de Grã Canaria, pelas 18h00 de quarta-feira, onde chega às 6h00 de quinta-feira.
Preços
Em termos de preços das viagens, o custo de uma viagem em poltrona custa 29,5€ por cada percurso (59€ nos dois sentidos).
Os preços dos camarotes oscilam entre os 40€ (quádruplo interior) e os 259€ (suite individual). Para não residentes, os valores são acrescidos em 100€ e 649€, respetivamente.
Os estudantes pagam 25€ por trajeto (50€ nos dois sentidos).
As crianças até 3 anos não pagam e dos 4 aos 11 anos pagam 14,5€ por trajeto (29€ nos dois sentidos).
Os veículos automóveis custam 120€ por trajeto e as motas 40€.
Em relação às viagens para e de Canárias, vão custar 105€ (ida-e-volta) por pessoa. Para viajar com a viatura há um adicional de 199,50€.
O Volcan de Tijarafe
Estas palavras dispensam explicações 📷 Paulo Camacho 📷 |
O Volcan de Tijarafe tem um comprimento de 154,5 metros, uma boca (largura) de 24,2 metros e um calado de 5,70 metros.
Tem velocidade de cruzeiro de 24,5 nós, que traduz cerca de 45 km/hora.
O ferry da Naviera Armas, que entrou ao serviço em 2008, pode transportar 1.000 passageiros, para os quais existem, além de inúmeros espaços pelo navio, 56 camarotes e 206 camas.
Tem capacidade para 1.500 metros lineares de carga rodada e 300 automóveis.
Regresso ao passado
A empresa madeirense já disponibilizou viagens de passageiros entre a Madeira e o Continente, concretamente Lisboa, com os navios Madeirense e Funchalense. É verdade que tinham a capacidade para 12 passageiros, mas era uma linha muito utilizada depois da ENM encomendar na década de 60 aos Estaleiros de São Jacinto os dois navios gémeos, Madeirense e Funchalense, que substituíram os respetivos homónimos em 1962 e 1966.
Eram dois elegantes navios, tipo “fruit carrier”, especialmente concebidos para o transporte da banana da Madeira para o Continente, que até meados da década de 80 do passado século ligavam semanalmente os portos de Lisboa e Funchal.
Até 1989 os navios que faziam as ligações quinzenais com Lisboa, alternando um com o outro, escalavam, por vezes, o Porto Santo, para onde transportavam passageiros de e para o Funchal e carregavam conservas de peixe para Lisboa da extinta fábrica de conservas do Porto Santo.
Enquanto o Funchalense foi vendido para Cabo Verde, o Madeirense acabou por ganhar uma nova vida depois de ser vendido à Porto Santo Line, igualmente do Grupo Sousa, quando foi adaptado para transportar 120 passageiros nas ligações entre a Madeira e o Porto Santo.
Na “ilha dourada”, os navios não atracavam no cais e, sem porto de abrigo, tinham de fundear, sendo o transbordo feito em pequenas lanchas como a Profeta, que recordamos muito bem. O Madeirense acabou por ser desativado e afundado no Porto Santo onde serve de recife.
Assim, a empresa centenária, fundada em 1907 por João Martins da Silva, que a 18 de maio daquele ano registou na Capitania do Porto do Funchal, com o nome Senhora da Conceição, a escuna comprada como Esperança, volta ao transporte de passageiros pelo facto de ser a única que apresentou uma proposta ao concurso público internacional para o transporte marítimo de passageiros e veículos entre a Madeira e o Continente.
O presente concurso internacional
O concurso internacional, adiado algumas vezes, teve, nesta última fase, 4 entidades a levantaram o caderno de encargos: ENM, Vieira & Silveira - Transportes Marítimos S.A, Tecnovia Madeira - Sociedade de Empreitadas S.A e por Charl Rafael Macedo da Silva.
O concurso acabou na sexta-feira, 4 de maio de 2018. Na segunda-feira, dia 7, decorreu a abertura das propostas onde a Empresa de Navegação Madeira surgiu como única concorrente.
A 10 de maio, o Conselho do Governo aprovou a proposta do júri do procedimento e, em consequência, adjudicou a Concessão de Serviços Públicos de Transporte Marítimo de Passageiros e Veículos, através de navio ferry, entre a Madeira e o Continente português, ao concorrente “Empresa de Navegação Madeirense, Lda.”, sujeito ao previsto na proposta e respeitando o caderno de encargos.
Nesse mesmo Conselho do Governo foi autorizada a eliminação da Tarifa de Uso do Porto, designada por TUP/Carga, igualando neste âmbito os portos regionais aos portos nacionais. Para o efeito mandatou o Conselho de Administração da APRAM - Administração dos Portos da Região Autónoma da Madeira para que este altere o tarifário, no sentido de eliminar a citada TUP/carga.
A linha
A versatilidade no transporte de carga é um dos pontos fortes dos ferries 📷 Paulo Camacho 📷 |
A Madeira já teve uma linha ferry quando a Naviera Armas estabeleceu em 2 de julho de 2006, a primeira carreira regular de passageiros entre Las Palmas, em Grã Canaria (Espanha), e o Funchal, transportando logo nesse ano 4.600 passageiros.
No ano seguinte viria a transportar 10.000 passageiros e 2.000 viaturas.
Em 2008, a companhia, que nasceu na ilha de Lanzarote (Canárias), resolveu estender a carreira até Portimão, no sul de Portugal continental.
Assim entre junho de 2008 e janeiro de 2012, a Naviera Armas fazia uma viagem triangular todas as semanas entre Las Palmas-Funchal-Portimão e vice-versa.
Por razões diversas, com acusações mútuas entre armador e o Governo Regional da Madeira, a operação tão acarinhada pelos madeirense ficou pelo caminho.
No global, só contabilizando a partir da ligação com Portimão, transportou cerca de 100 mil passageiros e 50 mil viaturas.
A ENM
A Empresa de Navegação Madeirense integra o Grupo Sousa, cujo sócio maioritário é Luís Miguel Sousa.
O capital social do grupo está distribuído do seguinte modo: Sousapar - Grupo Sousa Participações, SGPS, Lda., 60%, Lumiso, SGPS, Lda., 20%, Betasol, SGPS, Lda., 10%, e Rusamar, SGPS, Lda., 10%.
O Grupo Sousa está presente nos transportes marítimos, através das empresas Empresa de Navegação Madeirense, Porto Santo Line, Boxlines Navegação e PCI, nas operações portuárias, com as empresas OPM, Empresa de Trabalho Portuário, Terminal de Santa Apolónia e Lisbon Cruise Port, na logística, na energia e no turismo, onde tem três unidades hoteleiras na ilha do Porto Santo.
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