Fernando Pinto vai deixar presidência executiva da TAP
Fernando Pinto (à esquerda) e eu, numa viagem à Alemanha, aqui num comboio de alta velocidade |
Fernando
Pinto lidera a TAP desde outubro de 2000. Hoje anunciou que vai
deixar a presidência executiva da companhia, o que acontecerá no
final do mês.
por Paulo Camacho
A comunicação foi feita aos quadros da
transportadora por carta a quem informou igualmente que o sucessor
será Antonoaldo Neves, ex-CEO da Azul, a companhia de David
Neeleman, um dos acionistas de referência da TAP. Integra não há
muito tempo o conselho de administração da TAP e muitos diziam que
era o preferido dos acionistas, além de ser o homem de confiança de
David Neeleman.
Na
hora da despedida escreveu estar “absolutamente seguro de que com a
liderança de Antonoaldo, a TAP continuará neste incrível processo
de crescimento. Assim, o meu sentimento hoje é de absoluta
realização profissional e pessoal. De missão cumprida. A empresa
está no bom caminho e sinto-me plenamente realizado”.
O
mandato de Fernando Pinto como presidente-executivo da TAP terminou
em 2017 e a sua saída tinha o destino traçado.
Várias vezes conversei com Fernando Pinto em trabalho e também em momentos de maior descontração, como aconteceu no momento da fotografia que acompanha este texto. Foi em 2002, durante uma viagem de comboio de alta velocidade da Deutsche Bahn entre o Aeroporto de Frankfurt e a cidade de Colónia, na altura uma "ponte" que a TAP queria privilegiar para mostrar a facilidade e rapidez para chegar a aquela cidade alemã a partir do hub de Frankfurt.
Hoje a TAP já voa direto para o aeroporto de Colónia-Bona.
A carta enviada
Este é o conteúdo, na íntegra, da carta enviada hoje por Fernando Pinto aos colaboradores da TAP:
“Caros
colegas
É
com grande orgulho que comunico que em breve estarei me afastando da
direção executiva da nossa Empresa.
Estes
17 anos na TAP foram a experiência mais enriquecedora da minha
carreira. Não teria conseguido fazê-lo sem cada um de vós, de
todos, os que já cá estavam quando cheguei e de todos os que foram
entrando e que vi crescer profissionalmente com o passar dos anos,
tal como a Companhia.
Só
uma empresa feita de grandes profissionais nas várias áreas que a
compõem consegue crescer como a TAP cresceu nestes últimos 17 anos.
A TAP é hoje três vezes maior do que quando eu aqui cheguei e
cresceu muito também neste dois anos de privatização. É hoje
também uma das maiores empregadoras do País. Saio com a certeza de
que a empresa está numa rota de crescimento. O nosso caminho é
crescer. E irei acompanhar esse crescimento de perto, uma vez que
continuarei ligado à companhia nos próximos dois anos enquanto
assessor da TAP.
Não
é assim, nem jamais será, um adeus. É altura de fazer um balanço
e ele é muito positivo.
Há
17 anos, quando cheguei à TAP, tinha como missão privatizar a
empresa. Foi, como todos sabemos, um processo difícil, feito de
muitos obstáculos e dificuldades. A TAP era já então uma grande
empresa, feita de excelentes profissionais, com uma história
consistente, digna de uma Companhia que representa um País.
No
entanto, enfrentava constrangimentos de ordem financeira que impunham
a privatização. E enquanto esse objetivo não se concretizava, a
empresa tinha de sobreviver. Esse foi um dos maiores desafios da
minha equipa de gestão. Foram 15 anos de sobrevivência. Sobreviver
à falta absoluta de capital, às imensas flutuações cambiais, à
reestruturação da frota e por fim à chegada das low cost. Lembro
de momentos de grandes desafios mas, acima de tudo, momentos de
superação, em que foi possível, com a ajuda de todos, acreditar
que a empresa tinha futuro.
A
estratégia passou sobretudo por olhar além-fronteiras e tirar
partido da posição geográfica do hub de Lisboa. Crescer. Aumentar
rotas no Brasil, África e Europa. Torna-mo-nos então na companhia
aérea líder nas ligações entre a Europa e o Brasil. Encontrámos
o nosso espaço, na cada vez mais competitiva indústria da aviação.
E fizemos aliados. Associa-mo-nos à maior aliança de companhias
aéreas, a Star Alliance, porque sabíamos que tínhamos de estar
entre os melhores. Por isso, o balanço que faço desses anos é
extremamente positivo. Todos souberam lidar com as adversidades e
continuar a acreditar na empresa. Vestir a camisola, como é apanágio
de todos aqui dentro.
A
privatização da empresa, concretizada há dois anos, permitiu
iniciar um novo ciclo na TAP. A meta que tinha imposto a mim e à
minha equipa foi finalmente atingida. Era vital para a empresa, como
se pode comprovar hoje, após este período de resultados
extremamente positivos. A empresa tem atingido resultados históricos
sucessivos e a sua saúde financeira é cada vez mais uma realidade,
o que nos permite ter grande confiança no caminho que estamos a
seguir.
Os
verdadeiros heróis destes resultados são todos vós. É com
profundo reconhecimento que vos agradeço e a todos os membros da
minha equipa que me acompanharam. Destaco o nome de Manoel Torres, a
quem devemos o facto de o hub de Lisboa ser uma realidade.
A
TAP é hoje uma companhia com uma estratégia clara e bem definida,
bem posicionada numa estratégia de crescimento. Fechámos o ano com
mais de 14 Milhões de passageiros transportados. Uma meta que
parecia inalcançável até há bem pouco tempo. Tem um quadro
acionista estável, parcerias e alianças que lhe permitem voar mais
alto numa quadro global, com uma nova equipa de excelência,
preparada e conhecedora da realidade da empresa e que tenho vindo a
acompanhar, e continuarei a fazê-lo, desde a privatização. Os
acionistas da Atlantic Gateway já propuseram o nome de Antonoaldo
Neves para assumir a liderança, enquanto CEO da TAP, após a
aprovação em AG no dia 31 de Janeiro.
Não
podia estar mais contente e entusiasmado com esta escolha para
assumir os destinos da TAP. É a pessoa certa, e pela qual tenho
grande admiração. Aliás, fui eu mesmo quem o convidou para nos
ajudar no programa de crescimento que lançámos há dois anos, o que
lhe permitiu conhecer detalhadamente a Companhia. É um profissional
com grande know how no setor, com experiência enquanto consultor da
Mckinsey e membro do Conselho de Administração da empresa
brasileira de aeroportos, a convite do Estado brasileiro. Executivo
de perfil internacional ligado ao setor da aviação há cerca de 15
anos, foi também responsável pela colocação na Bolsa de NY e de
SP da Azul Linhas Aéreas, no que foi o primeiro IPO de uma empresa
brasileira nos últimos três anos. Além disso, temos mais em comum:
o Antonoaldo, tal como eu, tem antepassados do Norte e também tem
cidadania portuguesa.
Estou
absolutamente seguro de que com a liderança de Antonoaldo, a TAP
continuará neste incrível processo de crescimento. Assim, o meu
sentimento hoje é de absoluta realização profissional e pessoal.
De missão cumprida. A empresa está no bom caminho e sinto-me
plenamente realizado.
Cabe
agora aos acionistas iniciarem um novo ciclo com a eleição do meu
sucessor para o lugar de presidente executivo da TAP, o que deverá
acontecer já na próxima Assembleia Geral, a realizar no próximo
dia 31 de Janeiro.
Eu,
como todos vocês, tenho e sempre terei muito orgulho nesta empresa.
Acredito que devemos todos sentir-nos felizes ao ver aquilo em que a
TAP se transformou: numa empresa notável que em 17 anos triplicou o
seu tamanho: Três vezes mais receitas, três vezes mais passageiros,
três vezes mais rotas e três vezes mais aviões. Hoje a Companhia
está presente em 85 destinos, em 35 países. Reconhecida com
múltiplos prémios. E muito em breve terá novos aviões. Todo esse
crescimento trouxe um incrível aumento do sector turístico e da
economia de Portugal. Todos nós devemos estar muito orgulhosos do
contributo que demos para o crescimento do nosso país.
Continuarei
sempre a acreditar na TAP, porque sei que ela tem os melhores
profissionais com quem tive o gosto de trabalhar ao longo dos últimos
17 anos.”
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